Grandes oportunidades para as MPMEs

Pode parecer contraditório, mas mesmo no mundo dominado pelas grandes empresas transnacionais e estatais, sob a égide da globalização, há grandes

Pode parecer contraditório, mas mesmo no mundo dominado pelas grandes empresas transnacionais e estatais, sob a égide da globalização, há grandes oportunidades de negócios para as empresas de pequeno porte (sejam micro, pequenas ou médias –MPMEs).

Há muitos nichos de mercado, quer por motivos de escala ou de rentabilidade, que a grande empresa não tem interesse em participar. Nesses casos as MPMEs podem ocupar os espaços de forma muito vantajosa. Por outro lado, as MPMEs também servem como importantes elementos na cadeia produtiva de vários setores da economia moderna.

Na realidade, sobretudo nos países emergentes, as MPMEs desempenham um papel destacado no cenário atual, como facilitadora de todo o processo de reestruturação industrial em curso na economia. As MPMEs propiciam um lastro de estabilidade econômica e servem, em muitas situações de incertezas e de refluxo das atividades econômicas, como verdadeiros  colchões amortecedores dos impactos da crise, tornando mínimos os seus efeitos negativos sobre as grandes empresas.

As MPMEs atuam em atividades com baixa intensidade de capital e com alta intensidade de mão-de-obra. Também apresentam melhor desempenho nas atividades que requerem habilidades ou serviços especializados, principalmente aqueles de caráter mais profissional (serviços médicos, odontológicos, jurídicos, ou como agentes imobiliários, alfaiates e tradutores, entre outros). A pequena empresa encontra melhores espaços mercadológicos para progredir nos chamados interstícios ou nichos de mercados locais ou regionais.

Um dos mecanismos mais utilizados pelas pequenas empresas, nos últimos anos, tem sido o sistema de franquia (franchise), que se expandiu de forma notável já a partir do final dos anos 50 nos EUA. São exemplos típicos deste sistema as lanchonetes de "fast-food", lojas de cosméticos e produtos de higiene pessoal, farmácias, lojas de materiais de construção civil e outros tipos de comércio a varejo, além de óticas, agências funerárias, centros educativos e outros. Para se ter uma idéia da importância da franquia na economia norte-americana, basta citar que em sua totalidade esse sistema proporciona mais de 6 milhões de novos empregos, em cerca de 500 mil concessões, correspondendo a um total de vendas da ordem de US$ 460 bilhões anuais.

Cabe mencionar, também, o papel da pequena indústria na geração de novas tecnologias, principalmente nos casos da criação de incubadoras de empresas e dos Parques Tecnológicos, como são os casos do Vale do Silício na Califórniae a Rota 128 de Massachusetts (Boston) nos EUA, o conjunto de pequenas firmas de tecnologia de ponta nos arredores de Lyon na França, o Desfiladeiro do Silício na Escócia, os centros de tecnologia de ponta ao redor de Cambridge na rodovia M4 que sai de Londres, dentre outros.

Outra vertente de oportunidades para as MPMEs refere-se ao fenômeno de aglomerações ou clusters de empresas atuando em uma dada cadeia produtiva, como são os de calçados de Novo Hamburgo no Vale dos Sinos (RS), nas cidades paulistas de Franca (calçados masculinos), Jaú (calçados femininos), Birigui (calçados infantis), e nos pólos moveleiros de Bento Gonçalves e São Bento do Sul (RS).

Por fim, as inúmeras dificuldades e problemas, tanto de ordem financeira (carga fiscal ainda relativamente pesada), como técnica-organizacional e gerencial, devem ser superadas pelas MPMEs, a fim de que possam se tornar viáveis e competitivas, face à tendência de globalização das economias nacionais e regionais, principalmente no caso destas empresas atuarem de forma isolada em seus respectivos mercados.

Todavia, tais dificuldades poderão ser mitigadas por meio de políticas públicas inteligentes, voltadas à promoção das MPME’s, como, por exemplo, o incentivo à associação de empresas de menor porte a organizações na forma de sistemas cooperativos (como um guarda-chuva organizacional). Esses sistemas podem fornecer serviços comuns de compras, marketing, orientações quanto à exportação, mecanismos de financiamento, e até mesmo locais para a implantação de uma planta piloto (como as chamadas incubadoras industriais).

João Amato Neto é professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, coordenador do núcleo de pesquisa “Redes de Cooperação e Gestão do Conhecimento”, líder do grupo “Economia da Produção e Engenharia Financeira” e consultor da Fundação Vanzolini. Em setembro, organiza o 1º Seminário Internacional de Inovação na Pequena e Média Empresa.

Emprego e Renda 23-12-2011 Artigos

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