Dizendo não para seu chefe

Todos nós ficamos um tanto complacentes de vez em quando. Afinal, temos zonas de conforto. Nós nos dedicamos às coisas que curtimos, que nos fazem sentir bem, que vêm facilmente. Esse é o motivo pelo qual muitos se cercam de pessoas que concordam com elas, que pensam como elas e que as apoiam incondicionalmente. Mas líderes do primeiro escalão de uma grande empresa não podem se dar a esse luxo.

Em contrapartida ao substancial pacote de remuneração que é investido neles pelos acionistas, os líderes devem mergulhar no desconfortável, no não familiar, na opinião diferente. Somente dessa forma eles podem manter a empresa sólida e crescendo. Somente assim eles podem justificar aquilo que estão recebendo.

Tudo isso começa no topo

É função do líder providenciar a visão para o time. Um bom executivo deve ter um sonho e a habilidade de fazer com que a empresa apoie esse sonho. Mas não se engane: não é suficiente apenas ter o sonho. O líder também deve providenciar a estrutura com a qual as pessoas na companhia possam ajudar a realizar tal sonho. Isso é o que chamamos de cultura organizacional.

Quando a cultura de sua companhia permite que os profissionais desafiem ideias, sugestões e planos, você criou uma organização que pensa, um ambiente onde pessoas comprometidas são capazes de produzir os tipos de inovação e de produtividade requisitados para alcançar o sucesso hoje. Entretanto, se a cultura de sua empresa não permite dissidência, se os profissionais que sugerem alternativas são castigados por não atuarem com integrantes da equipe, você acaba produzindo um ambiente de medo, estagnação e antipatia. Não permitir um nível de dissidência adequado vai definitivamente aniquilar sua empresa. Pode apostar.

Discuta e debata, até um limite 

Você é um gerente brilhante, não? Você encoraja seu time a desafiá-lo e a sugerir alternativas. Mas... você também é um bom subordinado? Você desafia o seu chefe? Ou você se posiciona confortavelmente e protege seu emprego, concordando com tudo o que seu chefe sugere? Esse tipo de concordância pode funcionar temporariamente, mas não vai proteger seu emprego a médio ou longo prazo.

Todo gerente tem um chefe. É nossa responsabilidade para com nossos chefes ser honestos com eles, dizer-lhes o que realmente pensamos, mesmo se discordarmos. Ou melhor, especialmente se discordarmos. Você e cada um dos seus pares precisam discutir os problemas abertamente, de forma franca e tendo claramente em vista os melhores interesses para sua área. Você precisa dar ao chefe tanta informação e tantas opções quanto possível. Não tenha medo de lutar arduamente por aquilo que você acredita ser o correto. Seja profissional sobre isso, mas não perca a ternura jamais – como diria Che Guevara.

Entretanto, uma vez que o chefe tomou a decisão, qualquer discussão, argumentação e dissidência devem parar. Uma vez que a decisão foi tomada, você tem a obrigação de apoiar seu chefe naquela decisão. Você espera isso do seu time, certo? Então, você não pode fazer menos que isso na cadeia hierárquica.

Seja duro, discorde firmemente, mas sem perder a ternura jamais 

Você considera que sua posição está correta. Você quer o que é melhor para o seu time. Quer as coisas feitas de forma que melhor funcionem para sua área. Então, você argumenta em prol de seus pontos fervorosamente. Isso é bom, mas, por favor, não exagere. Você não vai ganhar todas as batalhas. Afinal de contas, seu chefe está atento ao que é melhor para a empresa como um todo, e não apenas em parte dela. Saiba reconhecer todos os aspectos envolvidos na negociação. Lembre-se de que você estará trabalhando com essas pessoas novamente no futuro. Por essas razões, é importante que você não destrua “pontes de relacionamento” no processo de discordar.

Enfrente essas questões

Incentive uma cultura na sua empresa em que opiniões diferentes sejam encorajadas. Evite a tentação de se cercar de indivíduos que são tão parecidos com você, que não podem oferecer perspectivas diferentes. Não se cerque de pessoas que são tão medrosas, que simplesmente não têm coragem de discordar. Recompense a criatividade e o pensamento genuíno no seu processo de tomada de decisão. Valorize aqueles que dominarem a arte de discordar “sem perder a ternura”. Talvez só então você possa impedir que mentes em “piloto automático” tomem conta de sua organização.

Pablo Aversa é sócio-fundador da Alliance Coaching. Empresa que oferece uma metodologia exclusiva de desenvolvimento de competências para que o executivo aprimore suas capacidades gerenciais e de liderança.

 

 

Victor Monteiro 21-03-2013 Artigos

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