Dinheiro: o assunto tabu

Conversar sobre dinheiro com a naturalidade com que se fala sobre clima, esportes ou política faz com que as pessoas lidem melhor com suas finanças e, consequentemente,...

Conversar sobre dinheiro com a naturalidade com que se fala sobre clima, esportes ou política faz com que as pessoas lidem melhor com suas finanças e, consequentemente, prosperem. Porém, devido à cultura, à vergonha dos rendimentos e ao medo de sequestros ou de parentes solicitantes de empréstimos, o assunto é tabu entre as famílias brasileiras.

Na maioria das residências, proíbe-se que o assunto venha à tona. Perguntar ao o pai ou à mãe o quanto ganham é considerado uma grosseria. Como muitas vezes há dívidas e falta de dinheiro, o assunto torna-se desagradável. Muitos dizem que os momentos familiares são para relaxar e curtir. Porém, quanto menos souberem sobre as finanças de casa, maior será o nervosismo quando tiverem de lidar com a realidade de contas, saldos bancários, empréstimos e investimentos.
 
A inclusão do tema nas conversas cotidianas faz com que o assunto se torne corriqueiro e as reações perante o tema sejam serenas. É por meio de bate-papos que se aprende e pode-se incrementar a vida financeira. O vizinho pode falar sobre a taxa de juros que paga no cartão de crédito, o colega do escritório dá uma dica sobre fundos de investimentos, a filha tem uma idéia sobre economia de energia elétrica e assim por diante. Se não se conversa sobre o assunto, fica-se aprisionado em uma redoma de ignorância financeira, e, portanto, impossibilitado de gerir com inteligência seus recursos.
 
Outro fator que faz com que a matéria não seja parte do bate-papo de elevador é que se confunde a personalidade com o salário recebido. Os que, naquele momento, ganham menos se sentem envergonhados e humilhados, enquanto que os que têm uma renda alta são considerados arrogantes e prepotentes. Cria-se uma armadura psicológica que impossibilita o surgimento de conversas. Ao passar a considerar que o dinheiro é desvinculado da personalidade, o assunto brota com naturalidade. Assim como alguém que leu a previsão do clima fala para levar um casaco, pois a temperatura poderá desabar, alguém com inteligência financeira pode alertá-lo que certa ação está uma pechincha na bolsa de valores.
 
Além disso, quando se conversa constantemente, as metas financeiras são mais fáceis de alcançar. Caso similar ocorre nos esportes. Assim como o pai pergunta ao filho nadador como estão os treinos e qual foi o tempo alcançado na última prova, o mesmo pode ocorrer sobre o “fundo de economias para viagens” da família. Pode ser empolgante saber que o fundo cresceu e que dará para ficar em um hotel superior, ou descobrir que um colega indicou uma agência que oferece promoções ou, ainda, que há um desconto caso a viagem seja quitada antes da data de partida. Dessa forma, a facilidade em alcançar as metas é maior quando o assunto vem à tona com naturalidade.
 
Por outro lado, muito da relutância em dialogar sobre o tema está relacionada ou ao medo de assaltos e sequestros ou ao receio de que os parentes e amigos comecem a pedir empréstimos e doações. As preocupações são naturais e válidas. Porém, com bom senso, é possível conversar corriqueiramente sobre o assunto e evitar inconvenientes. Ideias sobre fundos, taxas, seguros e teorias podem ser sopradas aos quatro ventos. Já assuntos como valores, cifras e saldos bancários podem ser restritos ao círculo familiar mais próximo e aos amigos de confiança. Assim, fura-se a bolha do isolamento, perante o mundo do dinheiro,, e evita-se que aumente a chance de que aborrecimentos aconteçam devido ao fato de prosear sobre o tema.
 
Portanto, a inserção do tema “dinheiro” nas conversas do dia a dia possibilita que as famílias brasileiras criem conhecimento e possam gerir melhor suas finanças. Com o passar do tempo e a habitualidade, o nervosismo perante o assunto atenua-se. Além disso, consegue-se separar o que é uma simples conversa de um julgamento da própria personalidade. Com um pouco de bom senso, evita-se que sejam atraídos problemas como roubos ou pedidos de empréstimos. Dessa maneira, ao se incluir um novo tópico no rol de conversas habituais, a chance de prosperar financeiramente aumenta, até com certa dose de juros.

* Fábio Araújo é autor do livro “Sociedade da Fortuna”, da editora Mais Ativos, e especialista em educação financeira. É formado em administração pela FGV-SP, fez carreira no mercado financeiro e atualmente trabalha no Banco Central.

Silvania Teixeira 09-07-2014 Artigos

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