Brasil oferece ótimas condições para criação de avestruz

Adair Ribeiro Júnior é pecuarista e confinador no Mato Grosso do Sul. Foi um dos pioneiros na criação de avestruz no Brasil. Participou, organizou e

Adair Ribeiro Júnior é pecuarista e confinador no Mato Grosso do Sul. Foi um dos pioneiros na criação de avestruz no Brasil. Participou, organizou e desenvolveu diversos congressos, leilões e convênios ligados à estrutiocultura no país e é o atual presidente da ACAB.

De acordo com Adair Ribeiro, nosso país oferece ótimas condições naturais para a criação. Esse fator contribui para que, até 2006, possamos ser um dos maiores estrutiocultores do mundo.

Emprego e Renda: Qual a importância da criação de avestruz para o Brasil?
Adair Ribeiro Jr.: O avestruz (Struthio camelus) pertence ao grupo ratitas, ou seja, aves que não voam. Originárias do continente africano, eles têm como habitat natural as savanas e desertos e sua alimentação é baseada em fibras vegetais como raízes, folhas, flores, sementes e pastagem. É considerada uma ave monogástrica, herbívora e com grande potencial de ser explorada racionalmente em nossas pastagens.
A criação de avestruz no Brasil, conta com um plantel em formação com cerca de 250 mil aves distribuídas em várias regiões do país. Estima-se que sua plena industrialização deva ocorrer nos próximos três anos. Nosso país já mostra, por meio da experiência de seus criadores, que a estrutiocultura é uma ótima opção econômica, pois o Brasil oferece boas características – clima, alimentos, mão-de-obra e infra-estrutura pecuária de fácil adaptação. Até março de 2006 é provável que o país alcance um plantel de 500 mil aves e esse número coloca o Brasil como um dos maiores produtores mundiais.
No cenário mundial, em virtude da grande demanda pelos produtos de alto valor agregado, atualmente, a criação de avestruz vem se popularizando e já é um sucesso em diversos países, além da África do Sul, como o Canadá, Estados Unidos, Austrália, Espanha, Itália e França. O rebanho mundial explorado zootecnicamente já se aproxima de quatro milhões de aves.

E&R: Li em uma reportagem que existem estudos sobre a implantação da córnea dessa ave em seres humanos. Como funciona esse processo e em que isso pode ser benéfico para nós?
A.R.: Existe muito folclore sobre isto, mas, sinceramente, nunca li um trabalho científico sobre o assunto.

E&R: O avestruz é muito comparado ao boi. Quais as vantagens da criação e da rentabilidade da ave?
A.R.: Uma fêmea produz, em média, 15 a 18 filhotes por ano. Os ovos, que medem entre 15 e 20 cm e pesam entre 1 e 2 kg (equivalentes a 25 ovos de galinha) e ficam na incubadora por um período de 42 dias. Os pintos nascem com peso aproximado de 800g e crescem cerca de 30 cm por mês durante os primeiros seis meses. Os animais estão prontos para o abate com 12 a 14 meses de idade e com peso variando entre 90 e 100 kg. Uma ave com essas características gera até 33 kg de carne limpa; 1,2 m2 de couro, além de um quilo a um quilo e meio de plumas. Sua conversão alimentar entre o nascimento e o abate é de 4,8 para 1. A vida produtiva de uma fêmea é de 30 a 35 anos e seu início de postura acontece por volta dos dois anos de idade. O avestruz vive de 65 a 70 anos.
Esses índices avalizam a viabilidade econômica da criação de avestruzes e mostram o potencial da inserção da estrutiocultura no agronegócio brasileiro.

E&R: No Brasil, como é o consumo dos produtos comercializáveis do avestruz?
A.R.: Os abates iniciaram em 2002 e os produtos do avestruz têm muitos diferenciais. A carne, vermelha e macia, assemelha-se muito em sabor e textura aos melhores cortes de carne bovina. Sua grande vantagem está nos baixos índices de gordura e caloria, mantendo todas as suas características nutricionais. Tem como maiores consumidores países da Europa, Estados Unidos e Japão, já podendo ser encontrada facilmente em vários restaurantes e prateleiras de supermercado, também no Brasil.
O couro possui características únicas. Consegue associar durabilidade, resistência, maciez e uma textura especial. Caracterizado por pequenos pontos deixados pelas plumas, torna bastante diferenciado o aspecto final dos produtos feitos com seu couro. Grandes grifes mundiais como a Gucci, Hermes, Yves Sain Laurent, Christian Dior e Fendi utilizam o couro como tops de suas coleções.
O primeiro produto do avestruz a despertar a atenção e, consequentemente, a ser explorado foram as plumas. Inicialmente eram usadas apenas como adorno, mas hoje têm grande importância na produção de espanadores que, por seu design exclusivo, geram eletrostática e absorvem o pó. Por esse motivo, são empregadas na pré-pintura de veículos na indústria automobilística e na fase final da limpeza de seus componentes eletrônicos. O Brasil é ainda o maior consumidor mundial de plumas, importando entre 50 e 60 toneladas por ano, para diversas festas populares – com destaque para o carnaval.

E&R: E no cenário das exportações? Como o Brasil se comporta?
A.R.: Estamos prestes a exportar as primeiras toneladas de carne para a Europa, que é o principal consumidor, e as perspectivas são excelentes a curto prazo. O Brasil pode se tornar o maior player mundial nos próximos três anos.

E&R: Como o senhor conheceu a estrutiocultura?
A.R.: Já sou criador há nove anos e conheci a estrutiocultura após pesquisas de mercado realizada em outros países e viagens para a África do Sul.

E&R: Como é estar envolvido em diversas questões de grande relevância para a estrutiocultura?
A.R.: É preciso muita responsabilidade para presidir a ACAB (Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil), entidade política e organizacional da cadeia produtiva. Mas já obtivemos muitas conquistas.  A ACAB foi criada em 96 e hoje é porta-voz do setor estrutiocultura nacional, com mais de 300 associados em todo o país. As associações regionais e estaduais fazem parte do nosso quadro de associados. A Associação representa 85% do plantel nacional de avestruzes e vem trabalhando em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Secretarias da Agricultura e Meio Ambiente.

E&R: Fale um pouco mais sobre a ACAB.
A.R.: Além das parcerias com o MAPA e as Secretarias, estamos também filiados a UBA (União Brasileira de Avicultura), órgão máximo da avicultura nacional, colocando a estrutiocultura com a devida representatividade no setor avícola e dando visibilidade e seriedade à criação e aos produtos do avestruz. Um dos nossos principais objetivos é a difusão da criação dessa ave, bem como defender os interesses dos criadores e, além disso, tornar o Brasil, em pouco tempo, um dos mais importantes pólos de criação de avestruzes do mundo. Temos muito trabalho pela frente na conscientização de nossos produtores para adequarmos nossos produtos às necessidades do mercado comum europeu e na regulamentação específica dos abates pelo MAPA.

E&R: Em que o curso da UOV te beneficiou?
A.R.: Neste quase 10 anos de estrutiocultura, já participei de uma grande quantidade de cursos e tenho uma biblioteca composta de uma centena de livros e trabalhos técnicos nacionais e internacionais. A busca pela informação e fundamental para qualquer atividade e todo curso traz sempre coisas novas. O curso da UOV foi bom para uma reciclagem e poder trocar informações nos chats.

 

Sobre a ACAB:

  1. Possui um quadro de aproximadamente 300 associados.
  2. Incentivou e participou da constituição das Associações Estaduais e Regionais, tendo no seu quadro associativo 14 Associações Estaduais.
  3. Participou ativamente para a reclassificação do avestruz (Struthio camellus) de ave exótica para ave de produção zootécnica por parte do IBAMA, que culminou com a edição da Portaria 36/2.002 - Grande conquista da Estrutiocultura Nacional em 2002.
  4. Participou ativamente para a regulamentação da atividade junto ao MAPA, que culminou com a edição da Instrução Normativa no. 02/2003 – marco para a Estrutiocultura Nacional, após quatro anos de intensos debates e reuniões junto ao MAPA.
  5. Realização de cinco edições do Congresso Brasileiro de Estrutiocultura, realizados em vários Estados do Brasil.
  6. Filiação junto à União Brasileira de Avicultura e reconhecimento, por parte desta, da representatividade junto ao setor estrutiocultor.
  7. Desenvolveu o Programa de Melhoramento Genético do Avestruz – Progestruz.
  8. Com os eventos Americavestruz, com cinco edições realizadas, promoveu uma divulgação da estrutiocultura na mídia escrita, falada e televisa sem paralelo, tornando a atividade conhecida e divulgando os produtos finais da industria do avestruz (carne, couro e plumas).
  9. Organizou e participou de vários simpósios, workshops, cursos, palestras e treinamentos sobre a estrutiocultura, trazendo em muitas ocasiões técnicos e palestrantes internacionais.
  10. Incentivou e colaborou para, pelo menos, uma centena de trabalhos científicos e acadêmicos sobre a estrutiocultura.
  11. Conquistou representatividade junto aos órgãos oficiais e regulamentadores, comunidade de produtores, de agentes participativos da cadeia produtiva da estrutiocultura nacional.
  12. Participou da inclusão, juntamente com o grande esforço da ABRE, de um técnico altamente credenciado, representativo da estrutiocultura, junto aos membros que compõe o PNSA - Plano Nacional de Sanidade Avícola.
  13. Participou da proposta da UBA no projeto de Regionalização da Avicultura apresentada ao Ministério da Agricultura em julho deste ano.
  14. Está organizando o maior evento já realizado pela estrutiocultura mundial o AMERICAVESTRUZ 2005, que será realizado em novembro na cidade de Salvador/BA.

Pela tabela abaixo você pode fazer algumas comparações.

Espécie

Calorias (Kcal)

Gordura (%)

Colesterol (mg)

Proteínas (%)

Ferro (mg)

Avestruz

101

1,8

36

19,0

3,2

Frango

190

7,4

89

28,9

1,2

Porco

212

9,7

86

29,3

1,1

Vitela

196

6,6

118

31,9

1,2

Boi

211

9,3

86

29,9

3,0

Emprego e Renda 16-01-2012 Entrevistas

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