Postura defensiva? Quem? Eu?!

Porque agindo dessa forma as pessoas vão lhe dar menos feedback e, assim, você dependerá demais de uma autopercepção incorreta. Com o tempo, seus

Porque agindo dessa forma as pessoas vão lhe dar menos feedback e, assim, você dependerá demais de uma autopercepção incorreta. Com o tempo, seus pontos cegos se multiplicarão (coisas que os demais sabem sobre você, mas que você nega ou não está consciente de que faz) e, mais cedo ou mais tarde, um deles vai acabar estabelecendo um teto para o seu crescimento. Aguarde e verá.

Para neutralizar essa triste possibilidade, indique aos demais que está aberto a ouvir o feedback deles, por mais equivocado ou injustificado que seja, e que vai levar a opinião deles em consideração. É simples, mas não é fácil. No entanto, a recompensa será concreta: atuando dessa maneira, você vai adotar iniciativas de desenvolvimento e aprimoramento ao reagir a uma parte dessa avaliação. Digo parte, pois existe uma grande probabilidade de que outras parcelas da avaliação sejam descartadas ou então contestadas. Faz parte do processo.

Fica claro o risco inerente à postura defensiva? Somente por meio do feedback é possível fazer essas três coisas – reagir, descartar e contestar –, que possibilitarão uma carreira mais sólida e fértil. Seguem dez dicas que podem ajudá-lo a aceitar as críticas como uma oportunidade para aprender.

1. Solicite um feedback 360° - Assumir uma postura defensiva é um grande empecilho para um autoconhecimento amplo e fidedigno. Quem fica nessa posição se superestima aos olhos dos demais. Se for visto como uma pessoa que nega suas falhas, talvez acabe ficando sobrecarregado quando os outros tiverem finalmente a chance de lhe dar feedback. As avaliações que fizerem de você serão mais baixas que o justificado, afinal, eles pensam que a mensagem precisa falar mais alto para penetrar seus escudos de defesa. Ao adotar uma postura defensiva, a melhor estratégia para saber o que os demais realmente pensam é pedir uma avaliação 360°, no qual todos ficam no anonimato  e  alguém  do  departamento  de  RH  coleta as informações e as interpreta para você.  Se pedir a avaliação diretamente, em virtude do seu histórico de ficar na defensiva diante das críticas negativas, é pouco provável que fique sabendo a verdade. Afinal, ninguém gosta de dar feedback verdadeiro e útil nesses casos. Pode apostar.

2. Gerencie sua reação - Você precisa treinar como vai se manter calmo, enquanto recebe uma avaliação negativa. Precisa mudar sua forma de pensar. Ao receber um feedback, seu único trabalho é compreender exatamente o que as pessoas estão querendo lhe dizer. Nesse momento, não cabe aceitar ou rejeitar os comentários. Isso virá depois. Treine mentalmente como reagirá de maneira calma ao feedback negativo, quando chegar a hora de enfrentar essa situação. Crie táticas automáticas para “desligar” ou adiar sua reação emocional. Algumas delas incluem desacelerar, tomar notas, fazer perguntas de esclarecimento, pedir exemplos concretos e agradecer por diz erem o que disseram. Afinal, você  sabe que não foi fácil para eles.

3. Independentemente do quão exato, aceite o feedback - Lembre-se de que as pessoas suspeitam de que você não consegue receber feedback de jeito nenhum, que se acha perfeito, que está se defendendo de qualquer coisa que indique o contrário do que pensa e que, muito provavelmente, vai culpar quem fez uma avaliação composta por informações inválidas. Elas esperam que a conversa seja dolorosa, tanto para elas quanto para você. Para pôr um fim nesse círculo vicioso, você precisa seguir as regras do bom ouvinte. Apesar de parecer um tanto injusto, deveria inicialmente aceitar todo feedback como fidedigno, mesmo quando sabe que esse não é o caso. E digo mais, precisa ajudar os demais a dar feedback desde o principio, de forma que superem o medo em relação à sua histórica postura defensiva. Se a distorção for séria, você pode voltar e consertar depois.

4. Reflita sobre o feedback - Depois da sessão, quando a poeira baixar e puder compreendê-la melhor, anote todas as críticas em fichas ou bloquinhos. Crie duas pilhas: “Críticas possivelmente verdadeiras” e “Acho que viajaram na maionese”. Peça a ajuda de alguém de confiança e que lhe conheça bem, assim não vai se iludir. Para os comentários verdadeiros, indique para as pessoas que deram o feedback que compreendeu a mensagem, considera que tem fundamento e que tentará fazer alguma coisa a respeito. Quanto aos demais, que não são verdadeiros, divida a pilha entre críticas importantes para você e o que é trivial ou irrelevante. Jogue fora os irrelevantes.  Para os comentários que provavelmente não são exatos, porém são  importantes, reorganize a pilha de acordo com o que é uma ameaça à sua carreira (se os meus superiores realmente achassem isso de mim, minha carreira estaria comprometida) e o que não é um obstáculo. Jogue fora o que não for um entrave. Repasse a pilha que sobrar com o seu superior imediato e/ou mentor, para ver qual é a opinião geral sobre você. Isso o deixa com duas novas pilhas: o que acham (mesmo que não seja verdade) e o que não acham de você. Jogue fora a pilha “não acham”. Use a pilha que sobrar para criar um plano e convencer as pessoas ao seu redor – atente: com ações, não com palavras – de que as críticas que fizeram sobre você em breve não serão mais verdadeiras.

5. Demonstre que leva o seu desenvolvimento a sério - Diga quais são suas necessidades de desenvolvimento e peça ajuda aos demais. Uma das melhores maneiras de evitar críticas é mencioná-las primeiro e deixar as pessoas entrar nos detalhes. Pesquisas apontam que os outros tendem mais a ajudar e a dar o benefício da dúvida a quem admite suas fragilidades e tenta fazer algo para consertá-las. Afinal, eles sabem que é preciso coragem.

6. Foque no problema - Uma consequência natural da postura defensiva é a resistência a qualquer coisa que seja nova ou diferente. Nas suas interações diárias com outras pessoas, essa posição pode fazê-lo parecer fechado ou resistente a pontos de vista novos ou diferentes. O primeiro passo que você precisa dar é desligar o programa de avaliação e rejeição e passar a escutar mais. Faça mais perguntas: “Como chegou lá?”, “Você prefere isto ou aquilo ao que estamos fazendo agora?”. Se discordar, dê os seus motivos primeiro. Então, peça aos outros para criticarem a sua resposta. Direcione sua divergência para a natureza do problema ou estratégia : “O  que estamos tentando resolver? Qual é a causa?  Quais perguntas deveriam ser respondidas? Que padrões objetivos poderíamos utilizar para medir o sucesso?”.

Em vez de discutir sobre a divergência entre a sua opinião e a da outra pessoa, concentre-se nos critérios usados para tomar uma decisão. Adote um estilo mais aberto. Você precisará persistir, resistir não só a eventuais rejeições, mas talvez até a alguns comentários furiosos e desdenhosos, para poder equilibrar a situação. Pratique mentalmente para não ser pego de surpresa. Como os outros esperam que você reaja às críticas ficando na defensiva, você precisa tomar a iniciativa e se abrir para a conversa.

7. Transforme os pontos cegos em fragilidades reconhecidas - O que mais coloca a nossa carreira em risco são os pontos fracos que realmente temos, mas que negamos ou rejeitamos. Isso significa que damos continuidade ao nosso desempenho como se fôssemos muito bons, quando na verdade não somos. Veja, é melhor ter um ponto fraco conhecido e admitido. Sabemos que não somos bons nisso, então nos esforçamos mais, pedimos ajuda, delegamos, encontramos um coach ou um mentor, lemos um livro ou contornamos o problema. Sua nova tarefa na vida é eliminar todos os pontos cegos. Transforme todos os seus pontos cegos em pontos fracos conhecidos, e os pontos fracos conhecidos em uma habilidade. Assuma como sua expedição pessoal descobrir o que todo mundo realmente pensa de você.

8. Revele mais sobre você - Pessoas que ficam na defensiva geralmente são tímidas e pouco acessíveis, quando o assunto envolve informações pessoais, principalmente se possíveis fragilidades ou erros forem o tema. Os tipos de revelação de que as pessoas mais gostam são: 1) os motivos por trás daquilo que você decide fazer; 2) sua autoavaliação; 3) informações que eles desconhecem, mas que você sabe que está rolando na empresa e tem liberdade de divulgar; 4) tanto coisas positivas que lhe aconteceram quanto momentos que o fizeram passar vergonha; 5) comentários sobre o que está ocorrendo ao seu redor (evitando ser negativo sobre os demais); e 6) seus interesses fora do trabalho. Essas são as áreas que deveria aprender a revelar mais. Se div ulgar sua autoavaliação sobre seus possíveis pontos fracos, isso diminuirá a quantidade de vezes que precisará ficar na defensiva. Esses dados que quebram o gelo abrem as portas para um tipo de relacionamento que lhe proporcionará mais feedback.

9. Evite reações ríspidas e precipitadas - Isso provavelmente vai lhe causar problemas. Você pode tirar conclusões apressadas, rejeitar categoricamente o que os outros dizem, usar um linguajar agressivo ou ainda rapidamente negar ou culpar alguém. Então, as pessoas o veem como alguém fechado e combativo. De maneira mais negativa, podem até pensar que acha que os demais são estúpidos ou desinformados. Se for visto como uma pessoa intolerante, os outros geralmente irão se embaralhar nas próprias palavras, enquanto se apressam para falar com você, e tentarão encurtar o próprio argumento, pois acham que você não vai ouvir mesmo (“então de que adianta?”). A saída é sempre fazer perguntas de esclarecimento primeiro, para receber  mais informações,  e preparar uma reação mais calculada e calma.

10. Tome cuidado com a linguagem não verbal - A maioria das pessoas que fica na defensiva possui um ou mais sinais não verbais que indicam que não aceita o que os demais estão dizendo. Podem ser sobrancelhas cerradas, olhar vazio, vermelhidão, agitação corporal, o dedo ou a caneta batucando na mesa, apontar etc. A maior parte das pessoas ao seu redor reconhece esses sinais. E você? Pergunte a alguém de confiança o que geralmente faz. Tente eliminar essas atitudes não verbais que têm efeito negativo.

Pablo Aversa é sócio-fundador da Alliance Coaching. Empresa que oferece uma metodologia exclusiva de desenvolvimento de competências para que o executivo aprimore suas capacidades gerenciais e de liderança.

Victor Monteiro 09-11-2012 Artigos

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