Os Vieses que afetam a tomada de decisões na carreira

Inconscientemente, distorcemos a realidade porque enxergamos o mundo por meio de filtros que nos induzem a perceber as informações de maneira parcial.

Ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2002, Daniel Kahneman, passou mais de 30 anos estudando e analisando como as pessoas tomam decisões e concluiu que, inconscientemente, distorcemos a realidade porque enxergamos o mundo por meio de filtros que nos induzem a perceber as informações de maneira parcial.

Kahneman afirmou, em sua tese vencedora do prêmio, que quase todas as pessoas têm percepções distorcidas de como as coisas são, já que o cérebro humano é contaminado por expectativas e percepções irrealistas. Ele concluiu que as falhas nos processos decisórios são regra, e não exceção.

Dito de outra maneira, criamos roteiros mentais falhos que organizam nossa tomada de decisão. O problema é que, muitas vezes, um roteiro equivocado nos leva a caminhos que nos fazem perder muito tempo, às vezes anos, ao insistirmos em empregos ruins, em profissões para as quais não temos talento ou em negócios inviáveis.

Essas distorções da realidade foram chamadas pelos estudiosos de vieses cognitivos. A maioria das pessoas tem pelo menos um destes filtros ou vieses atuando com alta intensidade em sua personalidade. O problema é que poucos se dão conta disso. Cada viés ou realidade distorcida faz que percebamos as coisas como descreverei a seguir.

O viés do pessimismo - Algumas pessoas têm uma tendência de serem pessimistas em relação a quase todos os aspectos da vida, acreditando que se algo pode dar errado, fatalmente dará. Elas se culpam, inclusive, de coisas sobre as quais não têm a menor responsabilidade.

O viés do otimismo exagerado - Ao contrário dos pessimistas, muitas pessoas distorcem positivamente as avaliações sobre si mesmas para se sentirem mais competentes e seguras. Os muito otimistas acreditam serem mais saudáveis, capazes, inteligentes, honestos, trabalhadores e justos que os demais.

O viés da confirmação - Muita gente busca, mesmo que inconscientemente, evidências para confirmar as coisas nas quais acredita e tem a tendência de ignorar ou minimizar as informações que contrariam suas crenças. Isso ocorre para que se sentirem mais confortáveis com suas decisões, mesmo que elas sejam prejudiciais.

O viés da aversão à perda - Para algumas pessoas, o medo de perder o que já tem é muito mais forte que o desejo de conquistar um posicionamento mais vantajoso. Quem é assim tem uma forte tendência de permanecer onde está, mesmo ao receber ótimas propostas de trabalho em outro lugar, por temer que sua situação profissional piore caso resolva mudar de emprego ou função.

O viés da sensação de injustiça - Alguns se sentem injustiçados ao ver colegas recebendo boas propostas de trabalho, sendo promovidos ou tendo sucesso nos negócios. São pessoas paranóicas que sofrem uma competição aparentemente injusta, a respeito das chances que só os outros parecem estar recebendo.

As consequências de todos esses vieses ou percepções distorcidas é que criamos falsas expectativas, subestimamos riscos e tomamos decisões equivocadas. As ilusões, sejam quais forem, criam uma imensa dificuldade para que encontremos o lugar certo, pois geram expectativas irrealistas.

Isso faz que as pessoas percam muito tempo ao não perceber quando estão no lugar errado ou não identificar quais aspectos em sua personalidade estão atrapalhando a carreira.

Os casos de fracasso profissional que mais tenho observado têm forte relação com as distorções da realidade geradas pelos vieses. Também tenho acompanhado situações em que a interpretação mais realista de si e dos fatos tem alavancado a vida profissional de muitas pessoas que estavam estagnadas em suas carreiras.

Identificar e diminuir a influência de seus vieses dará a você uma percepção mais realista e, portanto, mais condições de se posicionar no lugar que tenha relação com sua personalidade e estilo de vida. Este é o assunto de um dos capítulos do meu novo livro “Seja a pessoa certa no lugar certo”, lançado pela Editora Gente.

Eduardo Ferraz é consultor em Gestão de Pessoas há 25 anos e especialista em treinamentos usando como base a Neurociência comportamental.

Paula Martins 07-10-2013 Artigos

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