Pequenas empresas: a caminho do período de bonança

Marco Aurélio Bedê é doutor em Economia pela USP, associado ao Instituto Brasileiro de Excelência em Liderança e Gestão (IBELG).

Marco Aurélio Bedê é doutor em Economia pela USP, associado ao Instituto Brasileiro de Excelência em Liderança e Gestão (IBELG).

Emprego&Renda: Na sua avaliação, a crise internacional já acabou? Ou vamos ver nos próximos meses uma piora do cenário externo?

Marco Aurélio Bedê: A crise internacional de 2008/2009 atingiu em cheio a economia norte-americana e as economias europeias. Nesses países, houve expressiva retração da atividade econômica. Porém, o risco de quebra generalizada do sistema bancário, que foi o maior problema, já passou. Os governos atuaram fortemente na recuperação da liquidez dos principais bancos em seus países, afastando o risco de uma "crise sistêmica". Também atuaram de forma expressiva aumentando gastos governamentais e ou reduzindo impostos, para estimular o consumo e a atividade produtiva nesses países.

E&R: Então, porque há um risco de que a crise volte?

Marco Aurélio Bedê: Essa política de estímulo à economia chegou ao seu limite e agora são os governos que estão com dificuldades em suas contas, devido aos elevados déficits públicos e endividamento público. O que estamos vendo agora é que aqueles países que, antes da crise, já eram mais indisciplinados em termos de contas públicas, aumentaram muito seus desequilíbrios durante a crise, aumentando sua exposição e o risco de default (inadimplência do próprio governo). E agora, particularmente na Europa, alguns desses países terão que fazer um forte ajuste nas suas contas, o que poderá ser recessivo para eles. O ano de 2010 ainda será difícil para a Europa. Porém, os Estados Unidos já deverão apresentar uma recuperação mais visível no segundo semestre deste ano. E a economia mundial deverá apresentar uma recuperação econômica em 2010, puxada pela China.

E&R: Qual foi o impacto da crise nas pequenas empresas em 2009 e o que podemos esperar para essas empresas em 2010?

Marco Aurélio Bedê: Em geral, a crise afetou pouco a economia brasileira, se comparado ao que aconteceu nos principais países desenvolvidos. Em parte, porque nosso sistema financeiro já havia passado por um saneamento alguns anos atrás e encontrava-se líquido durante a crise. Em parte porque a atuação do governo federal foi muito eficiente na administração dessa crise. Por exemplo, nos 30 primeiros dias da crise, o governo já havia adotado 30 importantes medidas de estímulo à economia. Como resultado, o PIB de 2009 apresentou apenas um ligeira retração negativa (-0,2%) frente ao ano anterior e para este ano espera-se uma recuperação robusta, de 6% a 7%. Para as pequenas empresas, houve retração de faturamento em 2009, mas já a partir de outubro passado surgiram os primeiros sinais de recuperação. No primeiro trimestre de 2010, as MPEs já registraram uma recuperação de 10% no faturamento, frente ao mesmo período do ano passado.

E&R: Que setores serão os mais beneficiados pela recuperação econômica?

Marco Aurélio Bedê: Em 2010, a recuperação deverá seguir o padrão de expansão do período pré-crise. O aumento do valor dos salários mais baixos e a expansão do crédito deverão continuar ocorrendo, a menos que o Banco Central eleve substancialmente as taxas de juros da economia. Veja que estamos em um ano eleitoral, o que deve ajudar. Aliás, justamente por isso é pouco provável que o Banco Central eleve substancialmente os juros. O que devemos ver nos próximos meses é uma elevação pequena nos juros, visando o controle do crescimento do consumo. Porém, o consumo continuará crescendo. Os setores mais beneficiados tendem a ser aqueles voltados para o mercado interno e para as faixas de renda mais baixas. Produtos de baixo valor, tais como celular, ida à restaurantes e produtos alimentícios são exemplos de setores que vão crescer bastante esse ano. Aqueles associados à informática também devem retornar ao forte ritmo de crescimento das vendas.

E&R: Quais conselhos o Sr. daria para os pequenos empresários?

Marco Aurélio Bedê: Muita atenção! Estamos em via de retomar um período de bonança. O mercado interno vai crescer nos próximos anos, mas muitas serão as empresas que serão criadas para atender a essa demanda. Isso significa concorrência. Então, o planejamento continua sendo a principal arma do empresário para o sucesso. Não apenas no momento da decisão de abrir o negócio, mas também depois de aberto. É preciso sistematicamente rever as metas do negócio e adaptá-las às constantes mudanças do mercado.

Emprego e Renda 24-02-2012 Entrevistas

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