A hora de encerrar as atividades (ou dar sobrevida a uma empresa)

Quando é hora de decidir encerrar as atividades? De se aposentar? De pendurar as luvas ou as chuteiras? De reconhecer que é hora de desligar os aparelhos que sustentam ou postergam o inevitável fim?

No filme “Com o dinheiro dos Outros” (1991), na assembleia de acionistas, Andrew "Jorgy" Jorgenson (Gregory Peck) faz uma inflamada defesa de sua empresa “England Wire & Cable”, mostrando que, quando a economia americana voltar a crescer, a corporação voltará melhor e mais forte por ter resistido e superado este momento crucial. Em sua vez de expor suas ideias a um público hostil e antipático, Lawrence "Larry the Liquidator" Garfield (Danny DeVito) inicia dizendo: “Amém, amém e amém!”. E explica que, de onde vem, toda vez que alguém faz uma súplica ou uma prece as pessoas devem dizer ”amém”.

Será que quando vamos trabalhar, dia após dia, estamos realmente cientes do que está acontecendo e para onde estamos indo? Ou somos como aquele sapo cuja água vai esquentando tão lentamente que não percebe que está sendo cozinhado?

Como chegamos a este ponto? Por que fomos incapazes de perceber o que todos já sabiam e esperavam?

Quantas empresas não ficam agonizando por 3, 4 ou até por 5 anos antes de aceitarem que precisam tomar algumas atitudes? Infelizmente, neste momento, às vezes, a única alternativa é minimizar prejuízos e tentar proteger alguns bens.

Mais comuns são as empresas que continuam a se endividar achando que o problema delas é dinheiro.

Vamos aos fatos. A maioria das empresas (em dificuldades) só vai se conscientizar de que existe algum problema quando:

- Perceber que paga muito mais a bancos (juros e amortizações) que aos acionistas;

- Começa a sentir dificuldade em aumentar seu limite de crédito;

- Atrasa ou renegocia, regularmente, pagamentos com fornecedores;

- Começa achar impossível prosperar com os encargos e tributos deste país;

- Aguarda ansiosamente o novo REFIS.

Do ponto de vista mais pessoal, admitir que fracassamos, que não éramos tão bons e bem sucedidos não é nada agradável. O encerramento das atividades de uma empresa produz ferimentos profundos em nossa autoestima, maiores até que as provocadas a um gerente ou diretor dispensado após anos de dedicação a uma empresa. Afinal de contas, é mais fácil se buscar um novo trabalho que aguardar o que sobrou da massa falida e saber se seremos capazes ou teremos recursos e disposição para uma nova empreitada.

Como vamos encarar nossa imagem despedaçada? Vivemos numa comunidade onde somos conhecidos, onde éramos admirados e, agora, terei que caminhar carregando esta enorme cruz chamada FRACASSO?

Não menos comuns são os casos onde a empresa se torna, meramente, não uma fonte de rendimentos, mas um local para “retiradas”. Um “caixa eletrônico” onde você efetua saques superiores aos rendimentos de sua “conta corrente”. Mas como sair desse círculo vicioso?

Afinal de contas, ninguém nos pagaria o suficiente para nos aposentarmos.

Se você estiver nessa situação, então PARE!

Ao invés de continuar nadando ou se debatendo em alguma direção, busque uma orientação, veja para onde está indo, como tem evoluído. Você tem conseguido avançar ou está sendo vencido pela correnteza, sendo cada vez mais arrastado para o alto mar?

Olhe seus demonstrativos, consulte suas disponibilidades, sua margem de lucro, seus passivos... Pare e faça uma reflexão honesta! Você, mais que ninguém, será responsável pelas suas conclusões!

Seja honesto, humilde e bom para si mesmo! Honesto para aceitar se estiver com problemas. Humilde para buscar ajuda.

E bom para você mesmo para se submeter ao tratamento, mesmo que este não seja tão agradável.

Walter Tamaki é sócio consultor da Ventana Capital. Possui graduação em Administração de Empresas com ênfase em Finanças e Produção, mestrado pela FGV e MBA Internacional pelo ONEMBA FGV. Tem vasta experiência em gestão e recuperação de empresas adquiridas e profundos conhecimentos em planejamento estratégico, societário e tributário.

 

 

Victor Monteiro 22-02-2013 Artigos

Deixe um Comentário

Comentários

Não há comentários para esta matéria.